domingo, 7 de dezembro de 2014


Não, não é ainda a inquieta
luz de março
à proa de um sorriso,
nem a gloriosa ascensão do trigo,


a seda duma andorinha roçando
o ombro nu,
o pequeno e solitário rio adormecido
na garganta;


não, nem o cheiro acidulado e bom
do corpo, depois do amor,
pelas ruas a caminho do mar,
ou o despenhado silêncio


da pequena praça,
como um barco, o sorriso à proa;


não, é só um olhar.


Eugénio de Andrade