domingo, 7 de dezembro de 2014



Ele  ainda dormia quando fixou seus olhos naquela imagem e sentiu um 
restinho de saudade de abraçá-lo como antes, de encaixar-se naquele 
corpo, abandonada. Foi então que ele abriu os olhos. Aqueles olhos 
bêbados. Em seguida abriu um sorriso, os braços e a puxou pra perto. 
Beijou sua testa, seu rosto e disse um "bom dia" preguiçoso antes de 
vestir a roupa com uma expressão impune.” A gente se vê...”, disse 
juntando a chave, a carteira, o celular...” Te ligo qualquer dia 
desses...” fechando a porta atrás de si. Deixou-a com a frase evasiva 
ecoando, costurando desfechos. Deixou uma inquietação que se pensava 
superada. Agora restava recomeçar algo que parecia ter completado: teria
 que recomeçar a esquecê-lo. Afundou a cabeça no travesseiro, cobriu o 
rosto com o lençol e tentou retomar a consciência de que os elementos 
que tinha não eram suficientes pra recompor um romance despedaçado. 
Talvez apenas lhe rendesse apenas mais um desses poemas que doem.

Marla de Queiroz