domingo, 1 de outubro de 2017



Se a esquiva é o desvão do fingimento, 
o silêncio sugere o sim e o não. 
Se a lembrança prepara o esquecimento, 
cada verso que escrevo é sem razão. 
Muito mal representa este momento; 
o passado e o futuro, pouco então. 
A distância do verbo ao pensamento 
é-me acima a do claro à escuridão. 
Já não sei o porquê do movimento 
que se dá entre a pauta e a minha mão. 
Se há gozo, confundo com o tormento 
—duas faces da mesma sensação—.
Um poema não diz meu sentimento, 
cada verso que escrevo é sem razão.


Antoniel Campos