sexta-feira, 18 de março de 2016


 Estavam apaixonados um pelo outro. Não sabiam quando isso lhes tinha acontecido, ou como ou por quê. Ou sabiam ambos que isso lhes tinha acontecido desde o primeiro instante em que tinham sabido um do outro, ou mesmo um pouco antes, que era fatal, que mais nada tinha qualquer sentido. Que no princípio e no fim de qualquer hora, de qualquer trajeto, argumento, sonho ou pesadelo se encontravam um ao outro, voltavam a estar eles, só eles. Por isso ficavam horas agarrados ao telefone, febris, sussurrando, mudando o auscultador de um ouvido para o outro, como se fosse à própria alma que se agarrassem.

Pedro Paixão, Náufragos, Quase gosto da vida que levo