sábado, 26 de dezembro de 2015


Sem pedir autorização apareceste no meio da minha vida. Sem saber como, prendeste-me. Talvez não tenhas feito de propósito. Bastou o meu coração por ti perdido. Fizeste-me conhecer um mundo que não sabia que podia. O teu mundo, no fim de tudo, durante o fim. Precisei de conjugar todas as forças, todas as armas, todas as defesas. Teria de fingir ser eu para não me deixar arrastar. Sem saber como, eras o meu engano. Roubaste-me um pouco de tudo. Com os olhos, os dedos finos, e sempre de novo as palavras. Eu só queria deixar de ser eu. Fizeste-me fazer todas as coisas que sem ti não faria. Vivia de murmúrios e não tinha fome. Roubaste tudo o que havia em mim para roubar, sempre com o teu sorriso no escuro. Foste todos, e aquele que me enchia de terror. Como nada tinha, talvez nada tivesse a perder. Só que depois existias tu, com tanto existir que as pessoas e as coisas em volta deixavam de existir. Só o medo que tinha de ser feliz e que tu reparasses nisso. Era esse o medo que vivia em segredo no meu coração. Toda eu estremecia. Continuo a ouvir-te em silêncio. Uma luta feroz de mim para comigo. É inútil saberes o que quer que seja. O terror de ficar sem ti. Prendeste-me, sê consequente, eu não pretendo escapar das tuas mãos.

Pedro Paixão