sexta-feira, 20 de novembro de 2015


Ele gostava de se encontrar com ela no escuro, de modo que, antes de poderem ver o rosto um do outro, suas mãos tomavam consciência da presença um do outro. Sentiam o corpo um do outro como cegos, demorando-se nas curvas mais sensíveis, fazendo a mesma trajetória de cada vez; sabendo pelo toque os locais onde a pele era mais suave e macia e onde era mais grossa e exposta ao sol; onde o batimento cardíaco ecoava no pescoço; onde os nervos tremiam quando a mão se aproximava do centro, no meio das pernas.

As mãos dele conheciam o volume dos ombros dela, tão inesperados no corpo esguio, a firmeza dos seios, os pêlos febris embaixo dos braços, que ele pediu a ela que não raspasse. A cintura era muito fina, e as mãos dele adoravam aquela curva que se abria mais e mais amplamente da cintura para os quadris. Ele seguia cada curva com adoração, buscando tomar posse do corpo dela com as mãos, imaginando a sua cor.



Ele havia olhado o corpo dela em plena luz uma única vez e ficara encantado com a cor. Era um marfim pálido e uniforme, e apenas na região do sexo aquele marfim ficava mais dourado, como arminho antigo. Ele chamava o sexo de Elena de "raposinha", cujo pêlo se eriçava quando a mão dele chegava ali.

Os lábios dele seguiam as mãos; o nariz também, enterrado nos odores do corpo dela, buscando o esquecimento, buscando a droga que emanava do corpo dela.


Elena tinha uma pintinha escondida nas dobras da carne recôndita no meio das pernas. Ele fingiu procurá-la quando os dedos corriam pernas acima por trás da cauda da raposa, fingia querer tocar a pintinha e não a vulva; e, enquanto acariciava a pinta, tocava a vulva apenas acidentalmente, bem de leve, leve o bastante para apenas sentir a rápida contração de prazer - como o farfalhar de uma planta -  que seus dedos produziam; as folhas daquela planta sensível se fechando, dobrando-se de excitação, envolvendo seu prazer secreto, cuja vibração ele sentia.

Beijava a pinta e não a vulva, enquanto sentia como ela reagia aos beijos dados a uma pequena distância, viajava pela pele, da pinta à extremidade da vulva, que se abria e fechava à media que a boca se aproximava. Ele enterrava a cabeça ali, drogado pelo aroma de sândalo, pelo aroma de conchas do mar; devido à carícia dos pelos púbicos, da cauda da raposa, um fio soltava-se dentro da boca dele, outro fio se soltava entre as roupas de cama, onde ele o encontrava depois, reluzente, elétrico. Com frequência os pelos púbicos deles se misturavam. Posteriormente no banho, Elena encontrava os fios de Pierre enroscados entre os dela; o pêlo dele mais comprido, mais grosso e resistente.



Elena deixava a boca e as mãos encontrarem todos os tipos de refúgios secretos e esconderijos, e descansarem ali, caindo num sonho de carícias envolventes, baixando a cabeça sobre a dele quando Perre colocava a boca em sua garganta, beijando as palavras que ela não conseguia murmurar. Ele parecia adivinhar onde ela queria que o próximo beijo fosse depositado, que parte do corpo dela necessitava ser aquecida. Os olhos dela recaíam sobre os próprios pés, e então os beijos dele iam para lá, ou embaixo do braço dela, ou na concavidade das costas, ou onde a barriga desemboca no vale onde os pêlos púbicos começam, pequenos, finos e esparsos.

Pierre esticava o braço como um gato para ser afagado. Às vezes jogava a cabeça para trás, fechava os olhos e deixava Elena cobri-los com beijos esvoaçantes que eram apenas uma promessa dos mais violentos que estavam por vir. Quando ele não aguentava mais os toques leves como seda, abria os olhos e oferecia a boca como um fruto maduro a ser mordido, e ela caía faminta sobre aquela boca, como se fosse extrair dali a própria fonte de vida.


Quando o desejo havia permeado cada pequeno poro e pêlo do corpo, eles então se entregavam a carícias violentas. às vezes ela podia ouvir os próprios ossos estalando ao erguer as pernas acima dos ombros, podia ouvir a sucção dos beijos, o som de gotas de chuva dos lábios e línguas, a umidade espalhando-se no calor da boca como se estivessem comendo uma fruta que se desmanchava e dissolvia. Ele podia ouvir o estranho som cantarolante a abafado dela, como o de algum pássaro exótico em êxtase; e ela, a respiração dele, que se tornava mais forte à medida que seu sangue ficava mais denso, encorpado.

Quando a febre dele subia, sua respiração era como a de um touro legendário galopando furiosamente para desferir uma chifrada delirante, uma chifrada sem dor, uma chifrada que quase a erguia fisicamente da cama, erguia seu sexo no ar como se fosse transpassar o corpo dela e dilacerá-lo, soltando-a somente quando houvesse o ferimento, um ferimento de êxtase e prazer que rasgava o corpo dela como um raio, deixando-a tombar novamente, gemendo, vítima de deleite excessivo, um deleite que era como uma pequena morte, uma pequena morte deslumbrante que nenhuma droga ou álcool podiam proporcionar, que nenhuma outra coisa podia proporcionar além de dois corpos apaixonados um pelo outro, apaixonados no mais profundo de si, com cada átomo, célula, nervo e pensamento.

Anais Nïn, Delta de Vênus