terça-feira, 8 de abril de 2014



Não partas já. Fica até onde a noite se dobra
 para o lado da cama e o silêncio recorta
as margens do tempo. É aí que os livros
começam devagar e as cores nos cegam
e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas
quando amanhã se ferir nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras
rasgar as janelas como uma ave desabrida.
Alguém murmurará então o teu nome,vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página.
E então, sim, parte,para que outra história se
invente mais tarde,quando os pássaros gritarem
à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
o muro,de olhos acesos, fingindo que perguntam.

Maria do Rosário Pedreira