é com o corpo nu que te escrevo.
nada disso importa.
não sei mais quem és
e ignoras minha nudez.
tenho longas conversas com o vento.
a ele falo do sonho,
do desejo, esta lâmina,
diagonal a atravessar-me.
do amor.
falo-lhe de vicissitudes,
de quereres, de metáforas improváveis,
de altos propósitos,
construções possíveis
e paredes a desmoronar.
é com o corpo nu que te escrevo.
o que não importa.
não sabes quem sou
- alguma vez soubeste? -.
minha nudez é uma oferenda,
a mim e a ti.
sei que estas palavras
a saírem-me pelos dedos,
exatamente as mesmas,
deslizam pela minha garganta,
é a minha verdade que nos ofereço.
é com o corpo nu que te escrevo
minha face voltada para o horizonte,
e a pele à mostra.
silvia chueire