domingo, 20 de agosto de 2017

LIÇÃO DE GEOGRAFIA



Repare o tempo em qualquer parte
e deixe o toque ouvir cada momento.
Tire a luva invisível
e sinta sob a máscara invisível do meu rosto
o gosto que eu fiz para você
durante todo o tempo:
    de esperas
    de segredos
    de medos
    de recuos, desencontros, desesperos

(em suma, de desejos).

Releve a ruga, a barba por fazer e algum cabelo branco
(brinque-me.
 Pela janela, além da brisa, só a noite).

Pare no meu queixo e aí queira a sua boca.
Só não deixe que um beijo lhe sacie,
lhe baste,
porque um beijo rouba a história de outros beijos
e eu quero do beijo o motivo
vivo
porque sou feito de ânsias, de antes, nunca de depois
(e eu com essa cara de depois...).


Toque-me os ombros,
mas não tire o peso que imagina que eu carregue.
Todo o peso eu trago nos olhos
 —testemunha dos instantes em que você não veio.

Experimente as minhas mãos.
Aqui o aparente frio me desmente.
queimando, ainda, o cheiro da sua.

Mire-me os olhos 
e deixe-me ficar.

E essa brisa eu já nem sei se é de mim quando respiro
ou de você quando se vai.


Antoniel Campos